Um Presente, P.F.

A pedido do Pai Natal, Gémeo Luís e Eugénio Roda
trazem mais uma história e coisa e tal.

O Pai Natal meteu-se mundo-fora-casa-adentro,
na sua paz de velho-menino-rapaz.
Ao entrar numa casa-vazia-de-quase-todos,
ouviu uma voz num-tom-inesperado:
– Guarda lá os presentes, nós queremos passado!
E o famoso barbudo meteu a viola ao saco.

E sorriu e seguiu, mas sentiu um buraco.
Ao chegar a uma casa-vazia-de-quase-tudo,
ouviu um gemido por-cima-do-muro:
– Deixa lá os presentes, nós queremos futuro!
E o formoso barbudo meteu a viola ao saco.
E sorriu e seguiu, mas sentiu-se mais fraco.

De regresso à Lapónia, o Pai Natal viu-se a braços com a insónia. Numa carta tão longa que aqui não cabe, disse muitas-e-boas à humanidade. Sobre males-malícias, casos e notícias.
Sobre fome, sevícias, tretas-vitalícias. Sobre bens e delícias, gestos e carícias.

Alinhou no papel: divergências, reticências & circunstâncias;
aparências, negligências & militâncias; ingerências, consequências & discrepâncias; experiências,
prepotências & redundâncias; contingências, resistências & dissonâncias; confluências, previdências & ignorâncias; competências, exigências & consonâncias.

E, no fim, rematou, mais ou menos assim:
acreditem em mim, sou-o-tal-dos-presentes,
passado e futuro são coisas diferentes,
tratem disso, enfim, com as vossas gentes.

Texto Eugénio Roda . llustração Gémeo Luís . 21.12.2021