Seguramente é NATAL
A pedido da regrada família, Eugénio Roda separou algumas palavras e Gémeo Luís juntou alguns traços.
A quadra natalícia é vitalícia.
E a rima mete o dedo na delícia.
Não quero importunar vossas mercês
Mas atenção:
Cozinhar um só doce de cada vez,
E manter a devida distância do fogão.
A receita espreita
Mas, desta vez, é grande o desafio
Para toda a gente:
Separar a quentura do quente
E a frieza do frio.
Partir ovos, um sim, um não,
E, com desmedida precisão,
Separar casca, gema, clara
E fazer com ela coisa rara:
Batê-la em castelo sem acastelar.
Depois… pois,
É só jogar com efeito dominó,
E atar sem dar o nó:
Acrescentar sem adicionar
Adicionar sem incorporar
Incorporar sem misturar,
Misturar sem juntar,
Juntar sem unir,
Unir sem ligar.
A bem ver, na verdade,
É só cumprir à risca,
Manter, com liberdade,
Tudo o que vem na lista:
Separar sem arredar
Arredar sem deslocar
Deslocar sem desviar
Desviar sem desunir
Desunir sem apartar
Apartar sem isolar
Isolar sem espalhar
Espalhar sem distanciar,
Distanciar sem afastar,
Afastar sem separar.
Se parar para pensar,
Logo irá reparar,
Se parar de mexer,
Logo irá perceber:
Em vez de tentar a mistura,
É só apartar cor e textura.
Em vez de insistir na soma,
É só dividir sabor e aroma.
Tanta separação
Aumenta o desafio:
Servir o arroz doce grão a grão,
Empratar aletria fio a fio.
[Aumente a segurança e a zona de conforto
Servindo, gota a gota, o Vinho do Porto]
A receita é quase perfeita:
Dezenas de avelãs, passas e nozes
Em intervalos seguros, eficazes.
Dois milhões e meio de grãos de açúcar amarelo,
[Ou só meio milhão pra manter a dieta],
Quatro milhões de grãos de farinha sem farelo,
Poeira de canela irrequieta.
Tudo bem afastado, o mais possível
Espalhado pelo espaço disponível.
Demora mais a ceia
E a casa fica mais cheia.