Menimimado

A perdido e achado de famílias com este fado,
Eugénio Roda e Gémeo Luís juntaram-se aos reis.
Ora, três vezes dois dá seis. Noves fora, nada.

Regressavam em noite escura como breu os três magníficos mais tu e eu. E assim nos contaram a sua jornada, viagem ao frio e ao vento pra nada. E falaram das prendas que levaram, daquilo que viram e escutaram. Podia ter sido pior, disse Belchior. Sabes lá do que estás a falar, corrigiu Baltasar. Não se vão calar, avisou-nos Gaspar.

Nas palhinhas deitado, o lingrinhas parecia irritado:
Quem sois, donde vindes, o que tendes?
Somos os reis magos e vimos de longe, entusiasmados.
Pois então mostrai lá, chegai-vos pra cá.
Ofereceram-lhe mirra e o menino fez birra.
Ofereceram-lhe incenso e ele chorou imenso.
Ofereceram-lhe ouro e, em vez de aceitar o tesouro,
Mostrou-lhes o brilho do cabelo louro.
Em vez desses brindes, prefiro berlindes… ou, então, não:
Quero uma mochila, uma televisão,
Sapatilhas de inverno, havaianas de verão,
Mais um saco de coisas que bem sei quais são,
Ah, em vez da vacina, quero uma piscina!
Entreolharam-se os reis magos, trocando olhares vagos.
Aquele pequeno não era o serraceno.
Está visto, foi engano, voltamos para o ano!

Texto Eugénio Roda . llustração Gémeo Luís . 10.01.2022