Este livro é um achado
“Este livro é um achado. Tudo aqui me agrada, do título, ao formato, ao aspeto gráfico, aos textos, às ilustrações, ao ritmo, às opções assumidas. Editar um livro com o texto em oito línguas (português, espanhol, francês, italiano, holandês, alemão, inglês e grego) e com capas em dezasseis cores diferentes é, tanto quanto é do meu conhecimento, uma proeza inédita”.
Maria Emília Traça, professora, investigadora.
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“A originalidade deste livro, no contexto editorial de toda a literatura dedicada ao tema da maternidade, sobretudo no que se tem feito no campo do álbum ilustrado, reside talvez na sua extrema elegância, singeleza e originalidade a muitos níveis. Parece-me que este livro é de grande importância enquanto instrumento de trabalho em contextos escolar, familiar, entre outros, uma vez que permite explorar e desenvolver a capacidade de leitura de qualquer leitor, e mediador também, a muitos níveis: visual, estético, textual, filosófico, etc…”.
Margarida Noronha, Faktoria de Livros, Kalandraka.
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“Nada parece estar a mais nas ilustrações, nada parece estar a mais no texto, nada parece estar a mais no álbum”.
Inês Oliveira, ilustradora.
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No seu blog CriaCria, num artigo intitulado “«minhamãe» de Eugénio Roda e Gémeo Luís, Paula Pina escreveu:
“As montras resplandecem de cor de rosa, cartõezinhos e coraçõezinhos, bonequitos e versitos, dos clássicos aos humorísticos ou aos do mais absoluto mau gosto, de excertos de grandes poemas a más traduções de discutíveis aforismos de sábios pensadores. E depois temos a mercadoria vária, do “exfoliante vibrante que deixa os pés macios num instante” à zombeteira caneca ou ao ursinho contrafeito agarrado a uma túrgida almofada em forma de coração. Não há escola ou jardim de infância que se não afadigue, ano após ano, a criatividade desgastada, formaldeída e formulaica, literalmente obrigando grupos e grupos de crianças, sob pressão, a produzir “prendinhas” em série e sem sentido, em autênticas linhas de montagem de bebés carimbando com dedinhos, mãozinhas e pezinhos. Não é fácil, entenda-se, escapar ao vórtice celebrativo, à obrigação, à convenção. Agora publicado pelas Edições Eterogémeas, vale a pena descobrir “minhamãe”, da autoria da dupla Gémeo Luís e Eugénio Roda. Glosando a poética universal da maternidade e com tradução simultânea para espanhol, francês, italiano, alemão, holandês, inglês e grego (reflexo de uma intenção internacionalizante), este volume deixa-se descobrir pelo tato e oferece a possibilidade de escolha entre capas de tecido de cores diferentes. A ilustração, feita de sombras e recortes orientalizantes, enlaça-se nas textualidades e intertextualidades aforísticas da poesia.
Certo é que os aforismos, essas definições ou verdades supostamente universais, sofrem facilmente com a erosão enfadada da repetição, confirmativa, à laia de esconjuro amarelento ou silenciadora ciência. Mas a compilação de poesia de “minhamãe” instala-se subitamente no leitor, pela surpresa e pela inovação, pela musicalidade e singeleza, ou ainda pelo jogo de inversão de máximas ou referências conhecidas, conseguindo por isso descolar sorrisos: “o coração do mundo / é do tamanho da mãe”; “a mãe brinca com o fogo / para iluminar o caminho”; “a mãe desce aos invernos / para derreter a neve”; “no fundo, a mãe está sempre à superfície”; “a mãe traz a viagem / na bagagem”; “a liberdade prende-se à mãe / para não se perder”; “mãezinha / é um diminutivo de aumento”; “a mãe divide, soma, multiplica e subtrai / com qualquer número de filhos”; “no sono leve da mãe / há sonhos profundos”; “o primeiro filho / dá à luz a mãe”; “o negócio da mãe / é abrir filiais”; “mãe: beijo com os lábios / em forma de palavra”.
Também o minuscularizadamente engrandecido título “minhamãe” anula o espaço entre o pronome possessivo e o sujeito-alvo: aquele que possui o que ama e é amado pelo ama, em inquebrável dialética. Veja-se ainda que se a obra começa com a tradicional dedicatória, desta feita intergeracional, passado, presente e futuro (“à minha mãe, à mãe dos meus filhos, às mães dos meus netos”), é na infinitude que acaba: “a mãe é assim, sem princípio nem fim”.