

Ilustrar (a) quantas mãos?
Para produzir esta publicação, Mão-Cheia de Mãos, foram precisas muitas mãos a trabalhar e muitas mais ainda a serem trabalhadas. Agora o livro continua de mão em mão e as ilustrações de exposição em exposição. Num texto por ocasião da mostra integrada na Festa da Ilustração em Setúbal, Luís Mendonça explica:
“Podemos entender a ilustração como um artefacto individual, como um produto com assinatura, marcadamente autoral. Mas também podemos vê-la de outra forma, como pretexto para outro exercício, como resultado de um outro processo. É este o caso das imagens que aqui se apresentam. Partindo de um conjunto de fragmentos literários de Teresa Martinho Marques, as ilustrações foram criadas e recriadas num circuito coletivo: Estas mãos andaram literalmente de mão em mão, de aluno em aluno, desde a primeira até à última versão. Circularam entre duas escolas, a ESAD e a FBAUP. Aula após aula, estas mãos foram vistas e revistas, transformadas, acrescentadas, divididas, subtraídas, multiplicadas, invertidas, recombinadas, adaptadas, até aos resultados que se apresentam. E poderiam continuar, abrindo outros espaços ou níveis de reflexão e realização: é este o privilégio de uma escola.
A escola tem a responsabilidade de desafiar. Em vez de confirmar áreas de conforto, golpes de sorte, dados adquiridos ou argumentos pré conquistados, pode e deve proporcionar experiências capazes de tirar cada um de si próprio, de colocar cada um a agir e a reagir em diálogo efetivo com os outros. Se a escola é um palco, é um palco de ensaios, não um palco de espetáculos. Em vez de premiar comportamentos ensimesmados e pensamento isolado, a escola pode e deve motivar o envolvimento de todos, alargando os horizontes da inquietação, da persistência, da reflexão, do aprofundamento, da retoma, do imprevisto, do ensaio, da pesquisa, dos pontos de vista, do teste, da revisão, da afinação, etc. Em suma, a escola deve convidar à ginástica diária do coletivo, consolidando os meios de cada um para lidar com problemas e procurar soluções de forma cada vez mais emancipada.
Neste contexto, poderíamos levantar muitas questões que não têm aqui espaço. Agradeço o entusiasmo com que este coletivo meteu as mãos na massa, na expetativa de experimentar uma das grandes possibilidades do ilustrador, a de acrescentar o seu mundo a um mundo já feito, mas sem ter que impregnar sempre a folha com as suas impressões digitais.”