O Piano de Cauda a Dançar
O Piano de Cauda foi escrito, ilustrado, publicado, lido, relido e, agora, dançado. Com produção do Projeto Mover, direção artística de Cátia Esteves e cenários de Gémeo Luís, é apresentado no Teatro do Campo Alegre no Porto.
“Esta é a história dançada do Piano de Cauda. Uma história que nasceu das palavras de Eugénio Roda e cresceu com as ilustrações de Gémeo Luís. E que se conta mais ou menos assim: O Piano de Cauda vivia na floresta, como todos os bichos que têm cauda, onde a música dos riachos, das folhas, das ervas, do vento, da chuva, dos pássaros, passava o tempo entre a melodia e a harmonia. Um dia, o Piano de Cauda foi perseguido por alguém “pouco-pensador”, que lhe cortou a cauda para conseguir transportá-lo. Na cidade, para onde foi levado, empurraram-no e maltrataram-no até ficar negro. Negro como todos os pianos negros que conhecemos. Depois de muitos dias triste e calado, o piano sem cauda viu aproximar-se um rapaz com “o sorriso dos meninos-à-solta”. Que lhe tocou sem medo da sua longa dentadura, que o acariciou como se tivesse “os ouvidos, o nariz e os olhos na ponta dos dedos”. E que se foi embora. O piano sem cauda seguiu-o até ao seu apartamento, onde morava com o piano vertical. O rapaz passou a chamar-lhe Piano de Meia Cauda. Foi por ele tratado e mimado, afinado e preparado. Chegou o dia do concerto: Sem como nem porquê, o Piano de Meia Cauda viu-se no palco, onde o rapaz, com os seus braços de pianista, lhe devolveu “pedaços de céu azul, ervas e ribeiros”. Até hoje, nunca “se ouviu deles… senão música”: Música para dançar.”
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HÁ UMA SINTONIA PERFEITA ENTRE TEXTO E ILUSTRAÇÃO
Mais uma palavras sobre o livro: “O que achei fascinante e hoje redescubro em cada releitura é a ideia de narrativa aberta que passa pelo texto, do trocadilho e da brincadeira das palavras, dando azo a várias leituras, estando todo o trabalho de ilustração “afinadíssimo” com este tipo de escrita. Há uma sintonia perfeita entre texto e ilustração. Aos trocadilhos de Eugénio Roda (aqui um só exemplo: “O piano de cauda vivia no mais harmonioso dos lugares. Todos os dias, cedo cedinho, corria ao espreguiçadoiro, que é uma espécie de miradoiro donde se vê nascer o dia, e… dó, ré, mi, fá… o sol aparecia.”). Gémeo Luis responde com um piano de onde saem galhos, folhas, raízes, pernas e braços, num trocadilho visual, numa ilustração que nos permite ver muito para lá da simples representação de um piano.”
Jorge Prendas, Serviço Educativo da Casa da Música