Livros para ver, escutar, encenar, cuidar e divulgar

Onze livros ilustrados por Gémeo Luís estão em exposição na Papa-Livros. Ilustrações que o ilustrador realizou para livros como «Mais ou Menos Meio Metro», «A palavra que Voa», «A Boneca Palmira» ou «Rêve», de escritores como Ana Saldanha, João Pedro Mésseder, Matilde Rosa Araújo ou Eugénio Roda. Esta mostra faz parte de um programa de exposições temporárias, numa livraria onde Gémeo Luís teve também um outro papel.

A Papa-Livros foi concebida e desenhada por Gémeo Luís / Luís Mendonça. Adélia Carvalho convidou e deu «carta branca» ao designer e ilustrador para projetar o espaço como melhor entendesse. Para a instalação da livraria, ainda chegou a ser hipótese o CCB na Miguel Bombarda, mas acabou por ficar no shopping do Edifício Crystal Park, na loja 44, em frente do Museu Soares dos Reis.

Luís Mendonça concebeu a Livraria «como se fosse para ele»: um espaço com poucos livros, apresentando-os de forma a potenciar a relação com eles, e dando tempo aos leitores e clientes para desfrutar deles tal como eles são: objetos artísticos. Livros naturalmente escolhidos a dedo, a partir de uma lista de editoras nacionais e estrangeiras, incluindo um número significativo de países dos diferentes continentes. Isto, seguindo critérios de qualidade e de pertinência: por esta razão, um determinado autor tanto poderia estar representado apenas com um ou dois livros, como com quinze ou trinta, por exemplo

Certo é que um espaço diferente deve oferecer um catálogo diferente. Diferente dos lugares onde os livros são tratados eventualmente com menos tempo, com menos respeito, com menos conhecimento até. Diferente para sensibilizar e seduzir pessoas realmente interessadas, independentemente dos seus conhecimentos, pessoas que podem ser aconselhadas sem o interesse comercial à frente. E apoiadas com um serviço selecto, porque informado e disponível para tratar de outras vertentes habitualmente ultrapassadas quando se vendem livros.

Cada livro é uma obra de arte, como dizia Pakovska. Em vez dos livros emprateleirados, a Papa-Livros conta com duas paredes para privilegiar o contacto com as edições: de um lado, uma parede com os livros; do outro, outra parede, com ilustrações originais, em exposições temporárias.

Como na parede-catálogo o lugar de cada livro não admite mais do que três volumes, o armazenamento foi resolvido com a construção de uma caixa, que também é um banco, colocada junto da janela. A loja inclui uma cave, bem-vinda a uma outra função, outra camada a acrescentar no convívio com os livros: um lugar de performance. O espaço, alcatifado e forrado com cortinas, transformou-se num pequeno teatro versátil, permitindo a troca rápida de cenários. É um espaço sem iluminação, a ser explorado pelas crianças, munidas de lanternas para a hora do conto.

Toda a ideia assenta numa programação variada, coesa e contínua. Todos os meses será lançado um livro, com a exposição das respetivas ilustrações, de autores nacionais e estrangeiros. Uma atividade multifacetada num espaço polivalente, guardado por uma personagem esculpida para o lugar: um papa-livros que toma conta da livraria na companhia da lua, devorando livros, mas zelando por eles.

Uma das notícias que dão conta da inauguração da Papa Livros em Novembro:

.«LIVROS E FANTASIAS NUMA LOJA INVULGAR – PAPA LIVROS QUER CATIVAR CRIANÇAS NO PORTO»

“A nova livraria infanto-juvenil do Crystal  Park, no Porto, não é uma livraria comum. Na Papa-Livros não há estantes apinhadas de livros, não se vendem obras literárias com brindes de plástico e contos em folhas de papel são apenas uma parte do que pode encontrar neste lugar.

O espaço foi concebido pelo designer Gémeo Luís, que optou por «forrar» uma enorme parede de livros, em vez de os encaixar em prateleiras. Na parede oposta, está um desafio para crianças: descobrir a que livro pertencem as ilustrações emolduradas. O espaço é amplo, com vista para o jardim, e não se resume à loja. Atrás do palco, há uma entrada secreta para a cave. A ideia é que as crianças desçam as escadas de lanternas acesas até um lugar que mais parece um teatro. Com roupas de fantasia e fantoches, pretende-se que as crianças ali dêem vida às personagens dos livros através da expressão dramática e plástica. «Os livros ensinam mas também podem ser brinquedos», explica Adélia Carvalho, educadora de infância e «devoradora de livros» que criou o projeto Papa-Livros em parceria com o marido. Consciente de que é difícil fazer frente ao mercado das grandes superfícies, a responsável aposta numa oferta diferente. A sua experiência na educação de infância permite-lhe garantir que saberá «aconselhar obras aos pais por autor, ilustrador, idade ou tema. Dizendo-se «contra a literatura infantil plástica», a paixão de Adélia Carvalho pelas crianças e pela literatura vai mais longe: pretende estabelecer uma programação mensal e uma parceria com o Museu Nacional Soares dos Reis (que fica do outro lado da rua), na qual acolhe as crianças, enquanto os pais visitam as exposições. O objetivo: «cativar pais e crianças para a leitura de qualidade».”