A Boneca Palmira vai ao Barreiro
No âmbito da Ilustrarte – Bienal Internacional de Ilustração para a Infância, a convite de Eduardo Filipe e Ju Godinho e numa iniciativa promovida pela autarquia, o livro A Boneca Palmira de Matilde Rosa Araújo e Gémeo Luís vai ao Barreiro para ser lançado e as ilustrações originais para serem mostradas numa exposição no Auditório Municipal Augusto Cabrita.
Nas palavras de Rui Veloso, “enquanto o texto de Matilde Rosa Araújo se insere numa linha de narração com marcas líricas muito claras, o discurso de Gémeo Luís causará surpresa naqueles que têm uma leitura muito formatada da ilustração.
Há uma opção inovadora e, simultaneamente, significante: o texto verbal surge, na sua quase totalidade, em primeiro lugar, para, depois, se lhe seguir, em bloco, o texto icónico; no final, a quase fusão de ambos, com a particularidade de a imagem comportar significativamente as seis cores que, cada uma por si, dominaram as imagens anteriores.
Os mediadores interrogar-se-ão sobre os melhores caminhos para alimentar a interpretação do leitor, encontrando neste livro um espaço sem limites para promover a criatividade da recepção. Todos sabemos que a leitura é sempre a criação de um segundo texto por parte do leitor; neste caso, os mediadores terão de estar abertos a todos os possíveis.
Este livro desafia-os e sorri para os leitores. A opção por uma capa com tonalidades crepusculares contribui para um universo de descoberta – como aqui se constata, a força apelativa de uma capa não precisa de apostar na riqueza cromática.
O leitor, com ou sem ajuda do mediador, chegará a esta conclusão. O trabalho de mediação terá de ser necessariamente diferente, exigindo a construção de outras pontes na descoberta da(s) narrativa(s).
Ler primeiro o texto verbal e depois o icónico, optar pelo inverso, alternar, buscar linhas de força e pontos de contacto entre ambos, enfim, haverá um sem número de percursos, alimentando o sabor do inesperado a cada momento. A haver dificuldades de interpretação, o leitor sentirá o gozo da sua superação.
O facto de este ser diferente na concepção da narrativa gráfica confere-lhe um peso significativo no contexto editorial. O leitor confronta-se com a necessidade de alterar o seu modus operandi e de redescobrir a complementaridade dos espaços e dos ritmos narrativos que não se articulam em cada página mas se justapõem, preservando a sua unidade intrínseca.”
Segundo Sara Reis da Silva, “em A Boneca Palmira, da autoria de uma das autoras canónicas da literatura portuguesa de potencial receptor infanto-juvenil, tal como já havia sido dado a observarem A Saquinha da Flor (2006), Gémeo Luís, respeitando as mais relevantes linhas isotópicas da narrativa, constrói uma gramática visual, que integra um jogo cromático constrastivo, a par de tons fortes, que possibilita uma maior amplitude interpretativa.
Aspectos como a valorização da natureza, o sonho e até do próprio dinamismo inerente à essência lúdica da infância, por exemplo, são enfatizados pelas ilustrações de Gémeo Luís, uma composição una que ocorre na publicação apenas após o texto verbal ter sido apresentado, parecendo, assim, propor simultaneamente uma re-efabulação da narrativa e uma leitura visual sem «interferências da palavra», como se de uma narrativa visual se tratasse.”