Maria Mendes

Maria Esmeralda Mendes nasceu no Caramulo em 1943. Desde cedo teve o gosto pelo desenho e pela escrita. Fez o curso de Auxiliar de Enfermagem e trabalhou em alguns hospitais e institutos. Mas aspirava à formação artística, tendo frequentado em regime noturno a Escola António Arroio sem concluir estes estudos. O seu casamento, embora breve, com Carlos Cabral, geólogo e ator profissional, aproximou-a particularmente do mundo do teatro, tendo chegado a representar no Teatro Moderno de Lisboa e passou pelo Teatro Villaret. Desiludida com o seu casamento e divorciada, Maria Mendes saiu de Portugal com destino a Paris. Aí conviveu com compatriotas e artistas que no estrangeiro mudaram de ares. Em Portugal respirava-se o Estado Novo. Passou por Hanôver, onde estava sua irmã, voltou a Lisboa. E de novo a Paris e de novo a Lisboa, desta vez carregando uma mala de livros proibidos em Portugal. Desde muito nova inconformada, rebelde e contestatária, tomava agora parte de manifestações de protesto, o que lhe valeu confrontos com a PIDE. Voltou a sair de Portugal, à boleia, passando por Paris a caminho da Holanda como exilada política, três anos antes do 25 de Abril. Empregou-se em Amsterdão e aí conheceu Dirk Baartse, com quem casou e manteve casamento até 2009, quando faleceu. Começou a dedicar-se à pintura nos anos oitenta. Em dois mil e um começou a dividir a sua vida entre Paredes de Coura e Amsterdão, continuando a trabalhar, a desenhar, a expor, a escrever. Publicou contos e poesia em periódicos como o Século, o Diário ou a República.

Pintora, escritora e leitora compulsiva, Maria Mendes cultivou obsessivamente a relação com amigos, gatos e livros, constituindo uma significativa biblioteca pessoal com destaque para o seu autor preferido: Camilo Castelo Branco. Gastava boa parte do seu tempo a escrever cartas desenhadas aos seus amigos. Herberto Helder, Urbano Tavares Rodrigues, António Areal, Fernando Calhau, Alberto Pimenta, Sá Nogueira, Luísa Dacosta, José Rodrigues, Vítor Silva Tavares ou Mário Viegas são alguns dos nomes, entre tantos outros, que podemos encontrar no espaço de convívio e de correspondência com Maria Mendes. Podemos encontrar os seus desenhos e pinturas em diversas coleções particulares e institucionais. Em Lanhelas, no alto do monte, junto do miradouro do Cruzeiro da Independência de Lanhelas, podemos visitar a sua fundação, uma instalação intitulada “Fundação dos Artistas Desconhecidos”.

ALGUNS LIVROS
Acidentes. Ilust. Gémeo Luís. Eterogémeas. 2007.
Maria Mendes. Álbum de desenhos com textos de, Joaquim Matos Chaves, Ana Maria Pereira, Maria Mendes e Ena Romero/Emílio Remelhe. [S.I.:s.n] 2003.
Natal com Aleluia. Texto de Luísa Dacosta. Ilust. Maria Mendes/Jorge Pinheiro. Figueirinhas. 2002.
O Soldadinho. Edição de Autor. 2001.
Viagem Circular. Edição de Autor. 2000.
Maria Mendes. Álbum. Texto Luísa Dacosta, Vítor Silva Tavares e Alberto Pimenta. Bial. 1993.
Os Magos que não chegaram a Belém. Texto Luísa Dacosta. Ilust. Maria Mendes. Figueirinhas. 1989.
Tentativa de Expressão/Poging te zeggen. Picaron Editions. 1988.
As Casas dos Outros. Edição de Autor. 1988.
Rigor Mortis. &Etc. 1983.